sábado, 31 de maio de 2014

Primeiros Dias, Primeiras Impressões...

Numa página do word começo a escrever o primeiro texto para o meu Blog. A internet partilhada é lenta e não responde à primeira como estou habituado em Portugal. Esta é talvez das primeiras dificuldades a vencer.

Vim dia 28/05/2014, 4ª feira, às 12.15h, de Lisboa rumo a Tanger. Uma viagem marcada de um dia para o outro por motivos de urgência de trabalho: uma reunião para 6ª feira seguinte onde devo estar presente.
Avião da Portugália só para 20 pessoas. Um corredor, duas filas de passageiros e os pilotos a verem-se ao fundo. Abanava por todos os lados. Um marroquino ao meu lado, antes da descolagem benzeu tudo o que era objecto. Benzeu-se todo, benzeu a cadeira, benzeu a janela, benzeu o tecto, benzeu a cabeceira da cadeira. Benzeu tudo. Eu ria-me interiormente, mas a respeitar a crença dele. Nós humanos, de qualquer ponto do mundo, temos sempre necessidade de nos agarrar a algo transcendente a nós. Ele olhava para mim, sentia que o observava, e eu retribuía com um olhar, um sorriso e um gesto com a mão a dizer-lhe “Calma, isto nunca cai.”

Cheguei a Tanger. Aterragem a abanar por todos os lados e o marroquino também a transpirar por todos os lados. Estava a chover. “Chegada abençoada?” – pensei.
O Gonçalo foi-me buscar. Uma boa recepção e um agradecimento a ele pela sua ajuda.
Primeiras impressões de tranquilidade. Ambiente calmo, sem stresses nem confusões de trânsito. De carrinha fomos até Larache em 40 min.

Senti pelo país que fui “Bem-vindo”.




Entrada na cidade tranquila. As primeiras impressões foi o tipo de construção e a condução sem regras propriamente ditas. Aqui há que ter cuidado. Todos se metem. Nas rotundas a prioridade está de quem entre nelas, não de quem circula nelas.
Casa de construção ocidentalizada. Bom aspecto, igual em Portugal, mas porquinha. Houve necessidade de perder tempo a limpar. Vista muito boa. Da varanda vê-se o rio, vê-se a praia, vê-se o mar, vê-se o pôr-do-sol no mar, vê-se a construção variada, vê-se uma mesquita e vê-se um cemitério. O cemitério é sinal de calma.



Dia seguinte, início de compras para a casa, de tudo, desde talheres a roupa para a cama. O normal para quem vai começar a viver numa casa.

Mas antes disso, visita à obra. Início da recepção dos equipamentos com respectivos transportes até ao local. Dadas as fracas condições de uma ponte que possibilitava a chegada de uma grua, transportada em caimão, ao local da obra em menos de 5 minutos, tive que ir com o transportador, o António Ferreira, por um caminho de variadas naturezas, desde estrada alcatroada a “caminho de cabra” com cactos gigantes a roçar nos espelhos do camião. Um caminho de 20 km feitos em 2 horas. Chegada ao local e montada em dois dias.



Regresso a casa e continuação de instalação. Primeiro choque “diferente”: cabras dentro dos caixotes do lixo a comerem o lixo. Ao lado de minha casa há um pequeno lote de terreno com lixo. Uma pequena lixeira. Tranquilo. Sem Stress.

Entretanto já lá fui despejar o lixo duas vezes. E tive que soltar um: “Sai cabra!!!”.



Por entre almoços e jantares, onde se come bom e saboroso peixe, lulas, camarões, atum, ótimas saladas com vários vegetais (a beterraba aqui tem um sabor diferente de Portugal – não sabe tanto a “terra”), de preço médio 12 a 15 Euros, com sumo de laranja ótimo (não há bebidas alcoólicas nos restaurantes), houve o continuar de conciliar a nossa instalação nas casas com o início do trabalho.


Até então já houve várias histórias engraçadas. Uma delas o primeiro negócio com um marroquino numa casa de ferramentas: 4 parafusos para uma máquina. Pediu-me 70 Dirhams por parafuso, o equivalente a aproximadamente 70 cêntimos. E lembrei-me do que me tinham dito: “Aqui negoceia-se tudo!”. Bora lá então começar. “50 cêntimos”; “No…no…no…muy caro” (a falar-me ele em espanhol por perceber que não era de cá). “Amigo! Nós vamos ser teus clientes, tu vais ser nosso fornecedor. Estamos na obra do TGV. Vamos fazer muitas compras aqui. E vais começar a fazer negócio connosco por isso este é o desconto de cliente.” Por entre 30 min de negócio, de proposta e contra-proposta, onde me ofereceu um chá de Hortelã, levei os parafusos por 50 cêntimos cada um. Hoje passo lá quando vou beber café e cumprimento sempre o senhor.

Após isso, outro negócio espetacular a recordar: a compra de pen de internet num supermercado tipo Continente. Chateei-os tanto com preços, descontos, dúvidas, propostas, até ao limite de ir buscar um trabalhador do supermercado para ser meu tradutor, com quem já tinha tido conversas e que falava francês e espanhol…por impossibilidade de negociar…no fim ele exclamou-me: “Tu, tens sangue marroquino. Há quantos meses estás cá?”, respondi: “Cheguei há 2 dias.” Ele retorquiu: “Dois dias!!!!! Se já és assim e só cá estas há dois dias, fará quando estiveres há 3 meses!!!”. Foi mesmo de rir. O Gonçalo já não tinha paciência para me ouvir.

Sábado, dia 31/05/2014, 15.30h, depois de limpar a casa, saio de casa para finalmente “passear” na cidade. Tomo café no sítio do costume. Conversas informativas sobre a cidade, por entre um aprender de francês ao mesmo tempo e desço para a “Praça de Espanha” de Larache. Lembrança da “Nossa” Praça de Espanha de Lisboa, aquela que passo todos os dias, pelos menos duas vezes por dia.


Larache tem muitos contrastes. Contrastes esquisitos, estranhos. Mas a base está lá: Cidade Costeira e por consequente, Cidade Pesqueira. Tipo Peniche. Mas suja, mais suja. Mercado sujo, com “molho” de peixe a escoar pelo chão. O peixe que é vendido no próprio chão. A típica carne pendurada. Corredores desarrumados. Mas frutas coloridas e com óptimo aspecto. Voltas a sair do mercado, e deparas-te novamente com as ruas vizinhas, amontoadas de negociantes e respectivas bancas. Com confusão de cheiros. Cheiros fortes, cheiros doces, música árabe ou muçulmana (Não sei). Sujidade. O Ar e o cheiro doem nos pulmões. Mas, ao ter que ser, prefiro isto à poluição de carros e stress de cidade. Aqui o povo é tranquilo. Muito tranquilo. Andas sozinho, olham-te, trocas olhares, trocas vários olhares, mas não se metem contigo, não te abordam. E continuas o teu caminho pela rua cheia de homens. “Aqueles homens”.


 




Volto para casa. Descanso uma hora e meia. E volto a sair: corrida pela cidade com o chefe. Passas por todo o lado e voltas novamente a sentir os mesmos cheiros: aquele molho de peixe no chão, aquela lixeira mesmo junto do mar. Sim, dei por mim a correr num caminho de uma lixeira ou quase lixeira. Lixeira!
Depois tudo volta a contrastar com a avenida principal a desembocar na “Praça de Espanha” (a de Larache), ambas com agradáveis e bonitas palmeiras.



Voltas para casa, tomas banho, jantas em conjunto com a malta e inicias o teu Blog.

Amanhã talvez começa a conquista de ondas. Já  me informei que a 5 Km de Larache ouvem-se falar de uns surfistas. Vamos ver.

Até amanhã Larache.



Amo-te.